Este é o projecto organizador da área Lógica e Filosofia do MLAG (Investigador-Responsável: João Alberto Pinto)
O objectivo mais geral deste projecto é criar hábitos e laços de reflexão (1) sobre problemas de lógica, num sentido estrito, e (2) sobre problemas que, uma vez formulados com o auxílio da lógica, obrigam à discussão filosófica. A caracterização destes problemas permite explicar sucintamente a área temática em causa.
Para a caracterização geral do primeiro género de problemas contribuem duas ideias: a primeira delas assume que o conceito de validade de argumentos (inferências ou raciocínios) tem e sempre teve um lugar central em lógica; a segunda ideia considera o facto dos estudos lógicos ocorrerem pelo uso de linguagens artificiais – ou, mais exactamente, de linguagens formais – e não pelo uso de linguagens naturais. Da conjunção destas duas ideias resulta a cisão do conceito originário de validade em duas contrapartes estritamente teóricas: a noção semântica (símbolo ⊨) e a noção sintáctica (símbolo ⊢) de consequência lógica. Da lista dos problemas mais específicos que, neste caso, se têm que abordar constam os de saber qual é a relevância (ou como há-de ser avaliada tal relevância) da formalização de argumentos; o que é exactamente a forma lógica de uma frase (de uma linguagem natural); qual é a extensão exacta do assunto da lógica (a sua eventual restrição à dedução ou a possibilidade de lidar também com a indução); ou, ainda, como deve ser efectuada a distinção entre componentes lógicas e componentes não lógicas (de uma linguagem qualquer).
Para a caracterização do segundo género de problemas tem que se considerar como, a partir do estudo do conceito de validade, são adoptadas posições sobre a natureza da verdade ou, de modo ligeiramente diferente, o tipo de coisas que podem ser caracterizadas como verdadeiras (ou não); sobre o conhecimento lógico, de que é ele feito e qual é a sua utilidade (real); sobre a relação entre os processos mentais ou psicológicos e aquela sua descrição (eventualmente normativa) que apela a regras ou leis lógicas. No âmbito destes problemas torna-se manifesta a existência de uma dimensão histórica, a qual não pode de maneira razoável ser pensada como estritamente cumulativa.
De facto, a dimensão histórica que atrás ficou apontada também está presente quando se atenta outra vez no primeiro género de problemas. O próprio desenvolvimento da lógica, em sentido estrito, pode ser pensado como dividido em três grandes períodos. Um primeiro período vai de Aristóteles até meados do século XIX – sendo que nesse período a lógica apenas se pode caracterizar por intermédio da referência ao lugar central que o conceito de validade nela assume. O segundo período traz consigo, antes de mais, a generalização da necessidade de recorrer a linguagens artificiais. Este é também o período em que se assiste à constituição da forma de lógica actualmente canónica – com a sua subdivisão entre lógica proposicional e lógica de predicados (com identidade) – consolidada no âmbito de uma ligação muito estreita entre a lógica e a matemática – tal como pode ser atestado no trabalho desenvolvido por G. Boole, Ch. Peirce, G. Frege e B. Russell, bem como na obtenção de resultados metalógicos (essencialmente acerca da relação entre a noção semântica e a noção sintáctica de consequência lógica) durante a primeira metade do século XX. O terceiro período que cabe distinguir corresponde ao período no qual hoje vivemos e se inicia mais ou menos no início da década de 60 do século XX. Por motivações que são em grande medida filosóficas e já não especialmente matemáticas, surgiram desde essa altura uma série de propostas visando, por extensão ou por divergência, corrigir alguns aspectos da forma clássica de lógica (aquela que se constituiu no período imediatamente anterior a este terceiro período). Este é o contexto no qual ocorrem actualmente debates sobre, por exemplo, lógica modal, lógica intuicionista, lógica da relevância, lógica difusa, lógica livre, lógica paraconsistente ou, ainda, a lógica epistémica e a lógica deôntica.
Atendendo a tudo isto, torna-se razoável pensar que a lógica, no seu sentido estrito, tal como o desenvolvimento histórico da lógica, podem interessar filósofos em busca de informação sistemática sobre alguns dos mais tradicionais temas filosóficos. Na direcção inversa, os próprios filósofos podem impor esclarecimentos à lógica, tal como os lógicos a praticam no seu sentido mais estrito. Daqui deriva a conjunção – decididamente geral – que organiza as actividades deste grupo: «Lógica e Filosofia».
Um importante objectivo prático da constituição deste grupo está relacionado com o seu próprio enquadramento institucional e com o específico público que o grupo pretende atrair. Trata-se, basicamente, de testar a formação de uma comunidade de pessoas interessadas em lógica – quer se trate de pessoas que, independentemente da sua formação básica, querem efectuar a apresentação e a discussão dos resultados das suas investigações, quer se trate de pessoas que pretendem contactar com a lógica de forma mais directa ou então aprofundar os seus conhecimentos na área. Pensamos, particularmente e respectivamente, em docentes e investigadores da Universidade do Porto e de outras universidades portuguesas, directamente ligados à filosofia ou não, nos docentes e investigadores da Universidade de Santiago de Compostela que já estão ligados ao MLAG, e nos alunos e ex-alunos do 1º, 2º ou 3º ciclo de estudos em filosofia da FLUP.
Assim, este grupo pretende, numa primeira fase da sua existência,
(1) proporcionar – por intermédio da realização de conferências ou por intermédio da organização de seminários de trabalho – ocasiões para a apresentação e discussão de trabalho já realizado, ou em curso, na área da lógica e na área da história e filosofia da lógica;
(2) apoiar, pela realização de cursos de curta duração ou pela participação (essencialmente do investigador responsável) em debates, o trabalho de reflexão que for sendo desenvolvido nas restantes direcções de investigação do MLAG: o Projecto Convergences, onde certamente há-de estar em causa o lugar da obra de G. Frege, pelo menos, para a consolidação da importante tradição filosófica que dá pelo nome de «filosofia analítica»; o Projecto Acção, onde está em causa a oposição racionalidade/irracionalidade – e, por aí, também o contributo da lógica para explicitar mais cabalmente pelo menos um dos termos dessa oposição; o Projecto Sistemas de Pensamento, nomeadamente naqueles casos em que esses sistemas se comprometem com uma avaliação da relevância de resultados lógicosPágina actualizada a 12-03-2011 @ 09:53