Projectos

As actividades do Gabinete de Filosofia Moderna e Contemporânea (GFMC) têm estado estruturadas, desde 1998 (data de início do primeiro projecto do GFMC: "Para uma Antropologia da Dor e do Sofrimento") numa série de projectos de investigação. Os principais projectos para o triénio 2007-2010 são os seguintes:

Divergências (IR: Maria José Cantista)

Abstract:
A comparison of the two most important traditions of 20th century philososophy, phenomenology and analytic philosophy, is on the agenda for 21st century philosophy. Some phenomenologists, such as for instance J. Benoist, D. Janicaud and M. Haars pay close attention to what they take to be convergences. Hence the upsurge of interest in the first Husserl (Logical Investigations), studies of the Frege/Husserl dialogue and attention given to psychology issues.

The key-notion behind this convergence is that of intentionality. Yet, this notion undergoes such deep transformations within the phenomenological tradition that convergence, or even communication, between the two traditions becomes much harder. Since we believe such divergence is a key to characterize much post-husserlian phenomenology, we want to characterize it and to analyse its roots. Knowing that divergences within the phenomenological tradition have to do with husserlian transcendental reduction and with idealism, we want to spell out how they are connected with changes in the way the notion of phenomenon is understood. Within that context, we will look at the works of authors such as M. Richir, J.Y. Lacoste, J.F. Courtine, C. Romano, J.L. Marion and H. Maldiney.

We want to make it clear here the way in which (if that is indeed the case) the assumption of transcendental consciousness and correlated problems of the lifeworld and openness to existence somehow close communication between phenomenology and analytic philosophy. We also want to explore the hypothesis according to which this evolution within phenomenology makes it possible to consider issues which are somehow blocked within analytic philosophy, such as the act-dimension of thought, and the importance of the notion of 'The Given' for ethics (J. Derrida and J.L. Marion ).

Part of the richness of the development of phenomenology as a philosophical tradition has to do with the fact that, side by side with cognitive and ontological investigations, there has always been a practical strand in it, starting with Husserl himself, and his writings on will, emotion, and intersubjectivity. These investigations constitute an invaluable basis for the analysis of ethical and communitary experience. Emphasis on practical rationality within the phenomenological tradition has namely generated phenomenology-based approaches to ethics (H. Arendt, H. Jonas), which we, in this project, intend to compare with approaches of ethics in the analytic contractualist tradition, again looking for convergences and divergences, in this case focusing specifically on the notion of moral norm, and on the nature/culture conceptual pair.

Projectos MLAG (IR: Sofia Miguens)

- Conversations on Practical Rationality
- Convergences
- Causal and Conceptual Aspects of Action
- Mente, Acção e Ética
- Human Action and Rationality
- JAMES
- Justification of Knowledge in Formal and Empirical Sciences
- Semantics, social sciences and the theory of social systems

(Para mais dados acerca destes Projectos, cf. páginas do MLAG - Projectos.)

Colecção Nous (IR: M. J. Cantista e S. Miguens)

Projectos anteriores a 2007

As actividades de investigação do GFMC estiveram estruturadas nos anos de 2003-2005 em torno dos seguintes projectos (com prolongamento até 2007):

Sub-projecto 1 - Subjectividade e Racionalidade: elementos para uma hermenêutica da Fenomenologia (IR: M. J. Cantista)

Sub-projecto 2 - As ciências na cultura: do ideal do epistémico em estado puro à realidade e necessidade da contaminação (IR: M. M. Jorge)

Sub-projecto 3 - Racionalidade, Desejo, Crença I (RBD1) - a motivação para a acção do ponto de vista da teoria da mente (IR: S. Miguens)

Alguns dados sobre projectos passados:

  1. Projecto Para uma Antropologia da Dor e do Sofrimento
  2. Projecto Sentido e Racionalidade
  3. Subjectividade e Racionalidade: Sub-projecto Racionalidade, Desejo, Crença ? a motivação para a acção do ponto de vista da teoria da mente

Projecto Para uma Antropologia da Dor e do Sofrimento

1-Equipa de investigação

· Maria José Cantista, FLUP;

· Maria Manuel Araújo Jorge, FLUP;

· Maria Manuela Martins, UCP;

· Sofia Miguens, FLUP;

· Luísa Couto Soares, UNL;

· João Alberto Pinto, FLUP;

· Teresa Macedo, FLUP;

bem como vários colaboradores externos e internos.

2-Resumo

A dor é a experiência penosa, a experiência do desprazer de intensidade e duração variáveis, normalmente localizada no corpo próprio e geradora de evitamento. A experiência da dor é universal entre os seres humanos e estende-se a outras espécies animais. É um exemplo paradigmático de experiência consciente e coloca desde logo o problema de saber que tipo de acontecimento ela constitui. Na medida em que parece irredutível a uma descrição externa, como seria a que tomasse por base disposicões comportamentais, evidencia uma perspectiva privilegiada: a daquele que se vê afectado pela dor.

Porém, se é problemático que a dor possa ser simplesmente identificada com acontecimentos neuronais, ela parece indiscutivelmente ser o acompanhamento subjectivo da existência de determinada actividade do sistema nervoso. Como os nociceptores primários aferentes são transdutores que respondem a estímulos mecânicos, térmicos, a aumentos de concentração local de químicos produzidos pelo estrago dos tecidos, etc., parece também não poder deixar de estar aí envolvida uma complexa relação com o mundo. Quando pode a dor existir é um dos aspectos do problema para a biologia/medicina.

A intensidade da experiência da dor, é influenciável por factores que a modificam, reduzem ou aumentam, conforme a atenção ou desatenção, o grau de vigília, a expectativa, a hipnose ou a presença de endorfinas, mas que também pode ser anulada ou isolada da apercepção consciente dos sujeitos por via de anestésicos. A dor aguda determina estados de inquietude, excitação e medo, a dor crónica liga-se à resignação, à depressão, à hiperatenção ao sentir corpóreo. Frequentemente descreve-se a qualidade de uma dor nos termos dos estímulos que a provocam, termos de intrusão ou penetração num corpo: queimar, apertar, rasgar. Qual a natureza exacta de de tal terminologia não é senão outra vertente do problema.

A partir do aspecto afectivo e motivacional pelo qual a dor é caracterizável como uma emoção negativa, percepção do sofrimento, por vezes desejo de fuga (e mesmo de fim), ela vem a ser relevante sob um ponto de vista teórico não apenas para o neurofisiologista e o biólogo, mas também para psicólogos, etnólogos, teólogos, e, em geral, para um ponto de vista antropológico, na medida em que conjuntamente com o prazer é uma das forças maiores que moldam o comportamento humano. Que a dor possa ser também usada, representada ou administrada, na arte e na história é mais uma vertente do problema.

Abordar a dor e o sofrimento hoje constitui um dos grandes desafios para o filósofo. No momento em que a ciência proporciona técnicas de neutralização, o homem continua, no entanto, a sofrer. E este sofrimento decorrente de várias instâncias, interpela a metafísica, a ética, a epistemologia, enfim a estética e a política, no âmbito de uma complexa relação interdisciplinar.

Se é certo que sobre o tema da dor e do sofrimento existem investigações do maior interesse, também é certo que a sectorialização da sua abordagem incorre, por vezes, em reducionismos ou mesmo em teorizações incompatíveis entre si. Uma reflexão fenomenológica decorrente de um diálogo interdisciplinar, procurará detectar os ingredientes fundamentais de uma concepção antropológica da dor e do sofrimento, tendo em consideração as correntes actuais mais relevantes neste domínio.

3-Reflexões finais


Como se constata pela definição dada pela International Association for the Study of Pain, está longe de ser possível uma concepção simplesmente fisicalista da dor. Sendo uma ?sensação desagradável?, ela é também uma ?experiência emocional? associada efectiva ou potencialmente a uma lesão dos tecidos ou, pelo menos, descrita em termos de uma tal lesão (o que implica, necessariamente um comportamento).

O facto da iniciativa desta investigação interdisciplinar sobre a dor ter partido da filosofia, é algo inédito e foi muito bem acolhido pelas outras áreas do saber que colaboraram. A investigação poderá perfeitamente prosseguir, dado o interesse de muitos dos colaboradores (IPATIMUP, Ciências Biomédicas, Fundação de Serralves, etc).

Os resultados desta investigação não cabem num relatório. No entanto, apresentamos muito sinteticamente alguns dos aspectos mais relevantes: (i) detecção de um núcleo comum a todas as pesquisas: complexidade do fenómeno, especificidade do fenómeno (desde o nível neurológico), (ii) necessidade deste fenómeno como condição indispensável para uma existência sã, normal, (iii) carácter consciente do fenómeno.

O carácter antitético da dor e do sofrimento, foi também um dos elementos detectado nos diferentes discursos. A dor é simultaneamente: (i) evidente e enigmática (para o sujeito que a padece), inevitável e imprevista, (ii) manifesta uma consciência activa e passiva (afectada), (iii) proximidade absoluta do dentro e do fora (presença interior de uma exterioridade radical, é completamente minha e ao mesmo tempo completamente estranha), (iv) singular, não mensurável, solitária e simultaneamente apelativa do outro, pedindo compaixão, solidariedade, (v) silenciosa e simultaneamente necessitada de expressão, de comunicação.

A dor transforma o sentido quer da vivência do espaço e do tempo. Forma-se num presente vivo (que parece eternizar-se) fecha-se num presente estático, como se nada de diferente se passasse, mas ela é também relativizadora do presente, projectando o existente num futuro em que tudo se aposta, em termos da uma esperança quase absoluta.

A constatação prática mais gratificante da execução deste projecto foi a comprovação de ausência de rupturas entre os humanistas e os cientistas que integraram a investigação. A possibilidade de interacção entre áreas do saber tão distantes como a neurologia e a teologia, propiciada pela filosofia, em torno de conceitos antropologicamente significativos e centrais como a dor, é outra conclusão gratificante da investigação.

4-Bibliografia (em formato pdf)

5-Realizações no âmbito deste projecto:

a) Conferências

· Alexis Philonenko, Malheur et liberté;

· Vincent Descombes, Le mental ? philosophie de la psychologie;

· Michel Dupuis, La douleur étragère ? Einfuhlung et Fürsorge;

· Marc Richir, Stimmung, Verstimmung et Leiblichkeit;

· Jerôme Porée, Souffrance et temps;Jean-Pierre Dupuy, Le detour et le sacrifice ? Illich et Girad;

· Renaud Barbaras, Percepção e movimento ? o desejo como condição de possibilidade da experiência;

· Jean Luc Marion, La prise de chair comme donation de soi, Le corps sentant;

As conferências foram na sua maior parte publicadas nos dois volumes da Colecção Nous intitulados Conferências de Filosofia.

b) Seminários

· Maria José Cantista, O Segredo do Sofrimento ou o Sofrer em Segredo;

· Jérôme Porée, Le Principe de Raison Insuffisante;

· Sofia Miguens, Qualia e Razões ? uma história da interioridade natural;

· Fátima Pombo, A Metamorfose da Dor no Schönberg Expressionista;

· José Maria Costa Macedo, A Dor no Mundo como desafio à Racionalidade;

· Luís Adão da Fonseca, Experiência marítima e sofrimento na cultura portuguesa: sécs. XV a XVII;

· Fausto Martins, Iconografia de santos auxiliadores e curadores de doenças;

· Michel Dupuis, La Douleur Étrangère (Einfühlung et Fürsorge);

· Maria Manuela Brito Martins, A Questão do Mal em Paul Ricoeur;

· Paula Morão, A Dor, o Tempo e o Sujeito que Escreve em Irene Lisboa;

· David Pavón, Vacíos que duelen: exploraciones freudianas y lacanianas de lo que falta y de quien lo sufre;

· Henrique Gomes de Araújo, Há ?Sacrifício? na Sociedade Moderna?;

· Paulo Silva Fernandes, Ser Crime e Dor: o Homo Dolens e o Direito que Pune e Protege;

· Vasco Sousa, A Europa de Shengen: fortaleza étnica ou pluralismo de culturas;

· Florinda Martins, Sofrimento e imaginário no romance de Michel Henry;

· Jorge Tavares, A Lesão que Dá Dor e a Dor sem Lesão;

· Luísa Couto Soares, Medicina e Linguagem;

· Freitas Gomes, Toxicodependências e sofrimento;

· Marina Prista Guerra, A Vivência Psicológica da Dor e do Sofrimento;

· José Fernando Guimarães, Acerca do conceito de melancolia;

· Cândido da Agra, Genealogia da Afecção;

· Neiza Soares, A dor e o sofrimento no mito cosmogónico Dessana;

· Elsa Cerqueira, E. Cioran ? uma des-antropologização da dor e do sofrimento;

· Diogo Alcoforado, Sofrimento e espaço, corpo e representação;

· Maria Manuel Araújo Jorge, As Ciências, a Dor e o Sofrimento;

· Pedro Cantista, A Dor e a Clínica;

· Arantes Gonçalves, Da Sensação à Expressão de Dor;

· André Veríssimo, Sofrimento e Shoah;

Os Seminários foram, na sua maior parte, publicados no volume da Colecção Nous intitulado Dor e Sofrimento - uma perspectiva interdisciplinar.

c) Congressos e Colóquios

Colóquio "A Dor e Sofrimento hoje"
27 a 29 de Março de 2000
Fundação Engenheiro António de Almeida, Porto



Projecto Sentido e Racionalidade

1-Equipa de investigação

· Maria José Cantista, FLUP;

· Maria Manuel Araújo Jorge, FLUP;

· Maria Manuela Martins, UCP;

· Sofia Miguens, FLUP;

· Luísa Couto Soares, UNL;

· João Alberto Pinto, FLUP.

2-Resumo

Este projecto pretende responder aos desafios colocados à epistemologia, filosofia da mente, ética e metafísica pelos fenómenos da significação e da racionalidade.

Subjazem-lhe duas orientações. A primeira é uma referência comum à análise da intencionalidade. A interpretação ética do fenómeno husserliano como dom é o interesse central de Maria José Cantista, e será estudada nas obras de J.L. Marion, J. Derrida e M. Henry. Também Maria Manuela Martins trabalha no âmbito da tradição fenomenológica, desenvolvendo uma análise dos fenómenos volitivos e emocionais ? a partir das interpretações de Platão Aristóteles e da filosofia patrística medieval ? na fenomenologia da vontade de P. Ricoeur.

Luísa Couto Soares parte da teoria aristotélica do sentir, que atribui intencionalidade à sensação e percepção, e pretende desenvolver uma teoria do sentir como actividade mental intencional, explorando as relações entre, por um lado, a estética aristotélica e por outro, as análises gramaticais da linguagem psicológica (em Wittgenstein e nos seus discípulos Austin, Anscombe e Kenny) e as teorias dos qualia na filosofia da mente.

Também a partir da fenomenologia aristotélica, considerada como um método de análise da intensionalidade generalizada, João Alberto Pinto trabalhará problemas específicos das lógicas intensionais (modais, temporais, epistémicas, deônticas). João Alberto Pinto pretende chegar a uma distinção entre investigações técnicas formais e questões filosóficas, via a noção de lógica desviante (S.Haack).

A apropriação pela filosofia de um outro tipo de investigações científicas, nomeadamente em ciência cognitiva, consitui o pano de fundo do trabalho de Sofia Miguens sobre conteúdo, consciência e racionalidade. Sofia Miguens procurará caracterizar a diferença entre o estudo em terceira pessoa e a simulação do pensamento e a natureza possivelmente irredutível da consciência (Nagel, Searle) e da racionalidade (Putnam, Nozick). O conteúdo é, de entre estas questões, a mais susceptível de uma abordagem reducionista (Dennett, Millikan, Dretske), embora o holismo constitua um problema. A questão geral para Sofia Miguens será a da possibilidade de um pensador racional real.

A segunda orientação comum do Projecto é a ética. Maria José Cantista desenvolverá uma interpretação da intencionalidade como responsabilidade, com base no trabalho de Maria Manuela Martins sobre a fenomenologia da vontade (Ricoeur). O interesse de Maria Manuel Araújo Jorge é também a ética ? a ética aplicada ? na relação desta com a tecno-ciência contemporânea (Maienshein, Jonsen), especialmente no âmbito da investigação bio-médica.

Face à instituição da uma certa entrada da ética na ciência, Maria Manuel Araújo Jorge procurará investigar se esta não será sintoma não do advento de uma ciência ética mas de uma operacionalização da ética, considerada como apenas mais uma variável de uma situação abordável via procedimentos técnicos, ao mesmo tempo que o objectivo básico da ciência moderna permanece inalterado.

De um ponto de vista mais prático, o Projecto deverá conduzir à elaboração de listas bibliográficas e à aquisição organizada de obras para a Biblioteca do GFMC, bem como a uma selecção de textos para tradução e publicação.

As listagens adstritas à participação de João Alberto Pinto no Projecto conduzirão à organização do fundo de obras lógicas da Biblioteca Central da Faculdade de Letras, tendo como objectivo de longo prazo a sua utilização como apoio para o ensino da Lógica na FLUP. (Esta tarefa do Projecto foi levada a cabo. Para os resultados, cf. João Alberto Pinto, "Lógica: Uma Bibliografia Geral (FLUP, 1999)", Revista da Faculdade de Letras, Série de Filosofia, vol. XVIII, 2001.)

NOTA: O projecto 2 do GFMC foi aprovado e financiado pela FCT, tendo no entanto o GFMC abdicado do financiamento por não poder assegurar na totalidade o desenrolar de actividades que fora proposto na candidatura.

3-Bibliografia (Documento em formato pdf)



Página actualizada a 07-04-2011 @ 11:28

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