Anselmo de Cantuária: um método inovador de investigação filosófica na Idade Média

De 18-11-2011 a 16-12-2011

Seminário Heurística e estudo da Filosofia Medieval

Anselmo de Cantuária: um método inovador de investigação filosófica na Idade Média

Prof. Doutor Manoel Vasconcellos
(Universidade Federal de Pelotas- Brasil)

Faculdade de Letras da Universidade do Porto
18 de novembro, 09 e 16 de dezembro (sextas-feiras)
Sala do Departamento de Filosofia, das 13h30 às 16h30

"Se houvesse alguém que, pelo fato de nunca ter ouvido falar nisso ou por não acreditar, ignorasse existir uma natureza superior a tudo o que existe ? a única suficiente por si mesma, em sua felicidade ? e que concede, por sua bondade, à criatura ser aquilo que é, permitindo-lhe, inclusive, ser boa sob algum aspecto; se esse alguém ignorasse isso e muitas outras coisas, nas quais nós cremos com certeza acerca de Deus e das suas criaturas, penso que tal pessoa, embora de inteligência medíocre, possa chegar a convencer-se, ao menos em grande parte, dessas coisas, usando apenas a razão. E poderá fazê-lo de várias maneiras. Eu lhe indicarei apenas uma, que acho ser a mais fácil. Como todos aspiram a fruir das coisas que julgam boas, nada mais provável que essa pessoa venha, um dia, a dirigir a sua mente para a busca do ser pelo qual são boas as coisas que ela deseja só por que assim as julga e, dessa maneira, guiada pela razão e ajudada pelo ser que busca, consiga chegar, através do raciocínio, às coisas que irracionalmente ignoram". Anselmo, Monologion I, 13, 5 - 14,1.
No seminário procurar-se-á explicitar o método utilizado por Anselmo (Aosta, 1033/1034 - Cantuária, 1109) na elaboração de seu pensamento e na construção de suas obras. Julgamos  que Anselmo é inovador, uma vez que pretende elucidar questões relacionadas à fé, fazendo uso apenas da razão, de modo que as conclusões sejam obtidas tão somente pelo que chama de "encadeamento das razões necessárias". A originalidade metodológica não está no recurso à razão, mas  sim no ponto de partida da investigação que é a razão mesma e não a fé. Valorizaremos, fundamentalmente, as reflexões do próprio autor sobre seu método, presentes no Monologion, seu primeiro tratado sistemático, em que, numa espécie de discurso do método, como aponta Paul Gilbert, deixa entrever uma tensão entre a tradição e a dialética, uma vez que não recebe passivamente os dados da tradição; ao contrário, faz deles o campo ideal para o despertar do jogo dialético [Cf. Paul Gilbert, Dire L?ineffable ? lecture du Monologion de S. Anselme, pp. 26-27]. Além do Monologion, buscaremos compreender de que modo o autor faz uso do mesmo procedimento eminentemente racional no Cur Deus homo, um denso tratado em que investiga as razões da encarnação do verbo,  procurando  mostrar, a partir de uma conjunção de necessidade e liberdade, que há, por assim dizer,  uma lógica da encarnação. O seminário, na mesma medida em que estuda o método anselmiano, visa também elucidar o processo investigativo em torno de um autor medieval.

Bibliografia básica [textos de referência para o seminário]


Manoel Vasconcellos é doutor em Filosofia (2003) e Professor adjunto de Filosofia Medieval no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. É autor de diversos estudos sobre Anselmo de Cantuária/Aosta, sendo de destacar o livro Fides Ratio Auctoritas: O Esforço Dialético no 'Monologion'de Anselmo de Aosta: As relações entre fé, razão e autoridade, EDIPUCRS, Porto Alegre 2005. Entre outras obras, co-editou os Anais do I Congresso Internacional de Filosofia Moral e Política, Editora e Gráfica Universitária, Pelotas 2009. Atualmente encontra-se a fazer uma pós-graduação em Filosofia Medieval na Faculdade de Letras da Universidade do Porto com um projeto intitulado Os fundamentos morais do tratado Cur Deus homo de Anselmo de Aosta.



Organização:
Gabinete de Filosofia Medieval - Instituto de Filosofia.
Seminário Heurística e estudo da Filosofia Medieval do mestrado em Filosofia da FLUP.


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